Agronegócio

Alto custo do milho preocupa produtor de aves e suínos d MS, e deve reduzir ganhos

Saca do cereal com 60 kg aumentou quase 130% em um ano; queda na oferta eleva a despesa para produzir animais



Foto ilustrativa



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A saca com 60 kg de milho aumentou quase 130% em Mato Grosso do Sul e tem preocupado produtores, não só pelo aumento no custo da produção, mas também pela queda na lucratividade. 

Produtores de aves e suínos já usam estratégias como a substituição e plantio próprio da commodity.

De acordo com o boletim técnico Casa Rural, elaborado pela Federação da Agricultura e Pecuária Mato Grosso do Sul (Famasul) em junho do ano passado, a saca com 60 kg era comercializada a R$ 37,29, já no mês vigente a média é de R$ 85,36 – aumento de 128,90%.

Para o gerente de confinamento da MFG Agropecuária, Wagner Schio, que trabalha com a engorda de animais em Terenos, um dos principais receios com o aumento no preço do cereal é a queda no lucro.

“Tememos queda no lucro, com certeza, se não utilizar outros produtos para baratear a dieta. Focamos na safrinha, pois fizemos contrato antecipado, é uma das estratégias. E usar outros produtos para diminuir a inclusão do milho na dieta dos animais, um exemplo é o DDGs [grão seco], um subproduto do milho', explica.

Já o produtor Bruno Denari, acredita que a opção é diminuir a produção.  

“Vai impactar, pois subiu muito e ficou mais caro o custo. A tendência é diminuir a quantidade de animal confinado e pode diminuir porque o custo é muito alto. A arroba tem subido, ainda está no azul, mas se tiver uma retração na arroba fica inviável', ressalta.

Para a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) essa situação tem se tornado um desafio para os avicultores e suinocultores, já que alguns chegaram a reduzir e até abandonar seus plantéis.  

“Isso ocorreu justamente porque começa a ficar caro o capital de giro para poder comprar esse milho. De maneira geral, o setor enfrenta um desafio muito forte em relação aos seus custos de produção. O milho e o farelo de soja representam entre 60% e 70% dos custos de produção das granjas', destaca o diretor de mercado da ABPA, Luis Rua.

Ainda de acordo com ele, em alguns casos, os produtores já estão optando por substituir o milho por trigo, por exemplo.

“Existem as culturas alternativas, tem vários produtores que estão substituindo o milho por trigo. São resultados distintos, mas empresas vão aprendendo e chegando em nível de rendimento bastante próximo daquilo que é o milho', ressalta Rua.

Enquanto uns temem o aumento do produto, outros dão um jeito para ter o próprio sustento dos animais. Esse é o caso do produtor de Campo Grande, Arão Antonio Moraes, que planta o próprio milho para a engorda dos suínos.  

“O que mais preocupa é o preço do nosso produto final, porque o suíno está 30% mais barato na hora de vender e o milho mais caro. No meu caso independe, porque eu faço estoque para um ano.  Eu mesmo planto e colho o milho. A minha safra do ano passado eu armazenei, é um milho que se eu vender eu teria lucro, mas meu negócio não é vender o milho, meu negócio é vender o porco pronto', explica.

ESCASSEZ

Conforme informações da Famasul, atualmente, existe uma escassez de estoques de milho junto ao produtor, isso porque a colheita da 2ª safra ainda não se iniciou.  

“O milho em MS e no Brasil é colhido em sua maioria na 2ª safra [junho a agosto], por isso no atual momento há uma certa escassez do produto, pois os estoques de passagem 2020-2021 já estavam baixos e, sobretudo, porque a colheita desse ano ainda não iniciou efetivamente', explicou o gerente técnico do Sistema Famasul, José Pádua.

Segundo o presidente da Associação dos Avicultores de Mato Grosso do Sul (Avimasul), Adroaldo Hoffmann, quem fornece a ração é a indústria, então o único impactado seria a própria indústria, porém, ele não descarta a preocupação com a produção.

“Constantemente, temos reuniões com a indústria, e ela sempre coloca preocupação com o elevado custo da ração. Até o momento, nós não tivemos dificuldades com a falta, mas é claro que a gente tem essa preocupação e acompanhamos a qualidade, para monitorarmos se pode cair a produtividade ou não', explica.

Já a JBS, que fornece o milho aos produtores da Associação, aponta que não há falta do cereal, porque importa milho argentino.

PRODUÇÃO

Conforme o último levantamento do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS), a safrinha tem área estimada em 2 milhões de hectares, com produtividade média de 75 sacas por hectare, e produção de 9,013 milhões de toneladas.  

“Temos uma perda consolidada de 30% na safra de milho, em relação ao que nós estimávamos inicialmente. E isso está se repetindo no Paraná e em Mato Grosso, que são os grandes produtores de milho com o Estado. Consequência disso é que teremos agora no início da colheita uma oferta menor do que estava previsto', explica o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck.

Verruck ainda ressalta que o consumo de milho em Mato Grosso do Sul está direcionado para a bovinocultura e para as fábricas de ração de suínos e aves.

“Não observamos que haverá falta de disponibilidade nessa cadeia, o volume que estamos produzindo é suficiente para suprir. Só que vai chegar a um custo elevado e pressionar os valores de suínos, aves e bovinos. O Brasil deve tomar alguma medida em relação à exportação de milho. É preocupante, mas é decorrente de condições climáticas'.  

INVESTIMENTOS

Apesar de ainda acusar produção suficiente para suprir a demanda, Mato Grosso do Sul deve aumentar o consumo do milho no Estado. Com grandes investimentos anunciados recentemente.  

A Aurora anunciou investimento de R$ 140 milhões para ampliação da unidade de São Gabriel do Oeste e a expansão da unidade de Maracaju.

Além disso, existe também a possibilidade da instalação de Copérdia em Jaraguari. A cooperativa é uma das maiores fornecedoras de matéria-prima ao Sistema Aurora, com mais de 17 mil associados.  

Só em São Gabriel do Oeste serão investidos R$ 120 milhões, gerando 620 novas vagas de emprego e elevando o número de abates para 5 mil suínos por dia. O prazo é o 2º semestre de 2023. Os outros R$ 20 milhões serão investidos em Maracaju ainda neste ano.  

Outra companhia de alimentos, a BRF, uma das maiores do mundo, informou que vai investir R$ 121 milhões para ampliar e modernizar sua planta em Dourados, que conta com, aproximadamente, dois mil funcionários e 100 produtores integrados.