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Rio Betione também está no rastro da lama que não poupa cursos d’água em MS

O problema é que o rastro de lama que escurece mananciais de Mato Grosso do Sul alcançou o Betione.



Antes e depois da Cachoeira da gruta, em janeiro, mostram o que ocorre quando o rio não é protegido (Foto: Divulgação)



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Proprietários de uma área particular na zona rural de Bodoquena, a 266 km de Campo Grande, procuraram a polícia civil na semana passada para denunciar agressões ao Rio Betione, um dos cursos d’água da região que impressionam pela beleza. O problema é que o rastro de lama que escurece mananciais de Mato Grosso do Sul alcançou o Betione.

A proprietária conversou com a reportagem e pediu para não ser identificada. Assim como relatou à polícia, ela contou que flagrou 12 vacas pastando e pisoteando, tranquilamente, a área destinada a preservação, por exigência do Código Florestal.

 
Ela não sabe de quem são as vacas, mas teme a destruição da vegetação que protege as margens do rio e a degradação de um recurso responsável por movimentar a economia turística da cidade. Ao lado da propriedade em questão, vários ranchos, balneários, sítios e fazendas oferecem dias de tranquilidade para quem quer agradar os olhos com a beleza da água, o cheiro de natureza, o silêncio.

Assim como Bonito o que ocorreu em Bonito, e levou a decreto estadual com regras específicas para atividade agropecuária na região, a água deixou de ser clara em Bodoquena: em janeiro a cor verde água do Betione deu lugar ao marrom lamacento que, diferente de anos anteriores, custou a clarear.

“Infelizmente não é a primeira vez. Algumas vezes mandamos embora, espantamos, não era uma quantidade grande, imaginávamos que tinham fugido para aproveitar o pasto. Mas dessa vez comeu todas as plantas, a braquiária, na mata também tem rio', contou.

Pedido de ajuda – No final de janeiro o prefeito de Bodoquena Kazuto Horii (PSDB) procurou o governo estadual para pedir auxílio legal, semelhante ao decreto que hoje protege rios como o Formoso, em Bonito. Ele se reuniu com o titular da Semagro (Secretaria do Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) Jaime Verruck.

Presidente do Condema (Conselho Municipal de Meio Ambiente), Reginaldo Medeiros Barreto contou a mesma situação que veio a tona quando o rio da Prata e o Formoso ficaram escuros em Bonito: há avanço desmedido e sem proteção da atividade agropecuária. Reginaldo citou a soja e o milho.

“Devido às chuvas, nessa época, começou a ficar a turvo por mais tempo, demorou para clarear, empresários procuraram o departamento de meio ambiente [da Prefeitura], que foi averiguar a campo o que estava acontecendo', disse.

Conforme explica Reginaldo sobre o curso deste rio, seu comprimento é menor do que outros mananciais de Mato Grosso do Sul. O Betione, explicou, nasce em uma propriedade rural chamada Fazenda Cachoeira, localizado a 35 km de Bodoquena. No fim, ele deságua no Rio Miranda, mas até chegar lá, banha 7 balneários e um atrativo com passeio e hospedagem.

O presidente afirma que outro componente identificado como motivo da água turva foi obra em rodovia, cujos sedimentos acabam por chegar ao Betione.

“Foi identificado o turvamento pelo córrego Lageado que nasce perto da MS-178 com asfalto finalizado entre 2009 e 2010, liga Bodoquena a Bonito. Devido ao trabalho, o sedimento ainda vem com a chuva pelo Lageado e vai até o Betione', explica.

Segundo ele, depois de levantamento realizado pela Prefeitura na zona rural, parte dos proprietários se comprometeram a adequar as curvas de nível nas plantações. “Deu uma melhorada, mas daí o Condema se preocupando com o avanço das lavouras na cidade está elaborando uma lei municipal que tenha restrições quanto ao avanço das lavouras', disse.

Há, ainda, outro fator. A falta de drenagem em área urbana da cidade na região do centro culmina na desproteção do Betione, na zona rural. Reginaldo afirma que essa área já está em obras. 'Tem um outro trabalho sendo feito pela Prefeitura, não tem drenagem no centro da cidade, uma água lá de cima que impacta no turvamento do rio, a Prefeitura já está fazendo um trabalho, está em obras', comentou.

Projeto de lei – Diretor do Departamento de meio ambiente da Prefeitura de Bodoquena, o engenheiro ambiental Danillo Angelo dos Santos afirma que o projeto de lei citado pelo presidente do Condema já está em análise no departamento jurídico e quase pronto para ser enviado para a Câmara Municipal.

“O conselho rebateu uma minuta de lei para melhor proteção dos recursos hídricos, uso, atividade em torno, faixa, aumento da área de preservação permanente, ainda está na fase de análise do jurídico do município. O governo do estado, através da Semagro, está fazendo um levantamento da bacia do Betione para propor ações para reduzir o impacto [das atividades econômicas] e a conservação', contou.

“A questão do turvamento das águas – sou de Bodoquena - existe há de 30 anos, você tem um no período do verão que ocorre mais incidência de precipitação, mas por conta dessas atividades, aumentou essa preocupação, e por conta das chuvas torrenciais tem ocorrido esse fenômeno', complementou.

Jaime Verruck afirmou que não é possível, em razão da ausência de uma lei estadual, elaborar decreto ou incluir o Betione no decreto que hoje protege os rio de Bonito, ideia levantada inicialmente pelo titular da Semagro. Ele explicou, ainda assim, que medidas emergenciais e outras ações estão sendo realizadas.

“O que a gente fez, deslocamos a própria equipe do comitê de Bonito para Bodoquena. Começamos a avaliar o CAR [Cadastro Ambiental Rural, das propriedades] do Betione para identificar e já fizemos levantamento dos pontos de turvamento', comentou.

Conforme Verruck, as obras no centro da cidade devem diminuir, em boa parte, o problema. Outras obras de engenharia asfáltica, prometeu, estão sendo planejadas pelo governo estadual.

“Agora, com o estudo do CAR vamos ter que desenhar curvas de nível, vamos fazer o mesmo trabalho de Bonito e Jardim, tivemos uma reunião com o trade turístico, teve um feriado que 50 pessoas cancelaram [a estadia]', comentou.

Jaime Verruck disse, no entanto, que a área agricultável de Bodoquena é muito menor quando comparada com a de Bonito, ou seja, o impacto das atividades ligadas ao agronegócio são menores.

Fiscalização – As denúncias de crime ambiental como a da proprietária no início da reportagem devem ser comunicadas a órgãos como a PMA (Polícia Militar Ambiental) e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul). No dia em que acionou a polícia, a proprietária disse que ainda aguardava a chegada da equipe. Nesta sexta-feira (21), a PMA comunicou a reportagem que faria visita ao local.

Policial da base de Miranda, que contempla a região de Bodoquena, o Tenente Rondon, da PMA, comenta que as denúncias são maiores do que a capacidade da polícia ambiental de alcançá-las, mas disse que a polícia tem atendido todos os pedidos.

“Agora, é óbvio, nesse período de chuva, os rios sofrem essa ação que a água fica mais turva. Só que a PMA não tem condição de resolver todos os problemas, são coisas que vem acontecendo ao longo dos anos. As APPs (Áreas de Preservação Permanente) não estão sendo respeitadas', pontuou o tenente, que disse encaminhar todas às denuncias ao MPMS (Ministério Público Estadual).

A reportagem procurou a Promotoria de Bodoquena, por meio da assessoria de imprensa, e foi informada de que, no momento, não há procedimentos investigativos abertos sobre o Rio Betione e as áreas de entorno.