Cotidiano

Em meio a incertezas sobre concessão, BR-163 completa 50 anos hoje

Criação da rodovia trouxe desenvolvimento para região de MT que atualmente é MS



O valor do pedágio deveria ficar mais barato no dia 30 de novembro, mas decisão foi adiada - Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado



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O trecho da BR-163 entre Nova Alvorada do Sul e Campo Grande completa 50 anos de inauguração hoje. A construção da rodovia trouxe desenvolvimento para o então estado de Mato Grosso, se tornando uma rota para o escoamento da produção. Atualmente, a BR vive impasse por conta de problemas na sua concessão.

Na edição do dia 13 de dezembro de 1969, o Correio do Estado noticiava a inauguração da rodovia, que contou com a presença do então presidente, Emílio Garrastazu Médici, e do general João Batista Figueiredo, que era chefe do gabinete da Casa Militar.

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O trecho inaugurado era formado por 115 km, que ligavam Campo Grande ao entroncamento (a cidade de Nova Alvorada do Sul ainda não existia) com a BR-267, que também havia sido construída. A rodovia saía do entroncamento e chegava até a ponte sobre oRio Paraná, na divisa com São Paulo, e tinha 247 km. O caminho todo contava com 362 km de extensão.

Segundo o engenheiro civil Claudeir Alves Mata, que foi responsável pela construção de alguns lotes da obra, a importância da abertura da estrada pôde ser sentida pelos moradores da região pouco tempo depois da inauguração. “O desenvolvimento do Centro-Oeste do Brasil começou com a construção dessa rodovia. Para se ter uma ideia, a cúpula do governo federal, que na época era do Exército, estava presente na inauguração”, contou o profissional, que esteve presente no evento.

OBRA

Hoje o engenheiro atua como relações institucionais da concessionária CCR MSVia e destaca detalhes do evento. “Naquela época, a rodovia começava na rotatória da Coca-Cola e a inauguração foi feita onde hoje é o terminal de ônibus Guaicurus, em frente à secretaria de obras”.

Os mais de 300 quilômetros em Mato Grosso do Sul foram construídos com a ajuda de aproximadamente 1,5 mil funcionários, todos de empresas de fora, já que na região não havia empreiteira com qualificação para esse tipo de obra. De acordo com o engenheiro, como a região não era habitada, os trabalhadores moravam em acampamentos improvisados, montados próximos da construção. 

Os funcionários trabalhavam 30 dias seguidos, sem descanso, e depois passavam de dois a três dias com a família e retornavam. “Era um trabalho diário, sábado, domingo, feriado, mas era interessante para eles, porque a remuneração era boa”, contou Mata.

A obra começou de fato a ser construída em 1966 e levou três anos para o trecho ser concluído. O engenheiro enfatiza que chegou a morar dois anos à beira de um córrego, em Nova Alvorada do Sul, em um acampamento. “Naquela época, levavam-se seis horas para chegar daquele ponto até Campo Grande. Tinha dificuldade de apoio, não tinha a facilidade que tem hoje de comunicação, todos se comunicavam dos acampamentos com a sede por meio de rádio. Peças de máquinas também não eram uma coisa fácil e rápida de conseguir. À medida que nós fomos subindo foi ficando ainda mais complicado”, explicou.

Segundo Mata, apesar de ter 50 anos de criação, a BR-163 continua do mesmo jeito desde a sua inauguração. “O que existe hoje é o que foi elaborado há 50 anos, obviamente que houve intervenções por conta do desgaste do tempo, mas a rodovia é a mesma”.

DESENVOLVIMENTO

Os trechos inaugurados em 1969 custaram para o governo federal 125 milhões de cruzeiros novos, moeda da época. “Foi um investimento importante do governo federal, com o objetivo de criar condições econômicas para a região. A partir dali, o Estado começou a se desenvolver”.

Segundo o engenheiro, na época, se achava que a terra em Mato Grosso não seria fértil para a agricultura e também não poderia ser usada na pecuária. “Foi um momento que a tecnologia também se desenvolveu e veio para cá para se aproveitar essas terras. A Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] foi criada aqui, então isso foi um marco”.

IMPASSE

Após 45 anos nas mãos do governo federal, o trecho passou para responsabilidade da concessionária CCR MSVia, que deveria duplicar completamente 845,4 km previstos na concessão da BR-163. Porém, recentemente, o diretor-presidente da empresa, José Márcio Silveira, disse que a concessão da BR-163 se tornou insustentável, o que levou à interrupção da obra de duplicação e ao imbróglio da redução do preço da taxa de pedágio, que é de responsabilidade da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

“O interesse da CCR é buscar soluções e continuar prestando esse serviço”, defendeu o diretor-presidente durante audiência pública realizada em outubro deste ano, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems).

Para sustentar a paralisação do serviço, foi apresentado relatório financeiro da concessionária, que, de abril de 2014 a setembro deste ano, teve despesas de R$ 2,9 bilhões e receitas de R$ 1,2 bilhão. Essas receitas são provenientes da arrecadação do pedágio e das chamadas receitas acessórias.

O episódio mais recente desse imbróglio foi a redução do valor pago no pedágio. Decisão judicial havia reduzido em até 54,27% o valor para circular na via, entretanto, a empresa conseguiu reverter a decisão e manteve o preço do pedágio.