Política e Transparência

Maioria da população, mulheres são minoria entre postulantes às prefeituras de MS

Candidatas avaliam que faltam oportunidade e disposição para ampliar números





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Elas são 50,2% dos 2,8 milhões de habitantes de Mato Grosso do Sul, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas as mulheres são a minoria entre os postulantes às prefeituras.

Levantamento do Jornal Midiamax, com base nas atas das convenções registradas junto ao TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral) mostra que Ladário, no oeste do Estado, é a cidade com mais mulheres na disputa: são três, entre quatro homens.

Diversos municípios têm duas ou uma candidata, mas há aquelas em que não há nenhuma mulher concorrendo ao mais alto cargo da cidade. Dourados, que tem Délia Razuk (sem partido) no comando, é uma delas.

 

Em 2016, os eleitores sul-mato-grossenses escolheram sete prefeitas. Seis delas permanecem no cargo em 2020, mas apenas três vão concorrer à reeleição. Délia, Márcia Marques (MDB), de Antônio João; e Elizângela Biazotti (MDB), a Laka, de Juti, estão fora do páreo.

A prefeita de Dourados desistiu de concorrer por motivos pessoais. “Como já anunciei antes, a vontade da família é que ela não dispute a reeleição para ficar mais com meu pai, que já tem 79 anos”, declarou o deputado Neno Razuk (PTB), filho da prefeita, no início do mês.

Maioria da população, mulheres são minoria entre postulantes às prefeituras de MS
Raquel do Prado, ao lado do candidato a vice (Divulgação)

Oportunidades

 

Além de ter mais candidatas, Ladário é uma das cidades com chapas formadas apenas por mulheres. Cristiane Verlaine, do PSL, tem como vice Gleice Kelly. Também concorre Andréa Sampaio (Cidadania), ex-primeira-dama da cidade.

Para a professora Raquel do Prado, candidata pelo PT, não só a política, mas a vida de modo geral é mais difícil para as mulheres.

“Temos uma sociedade machista e patriarcal. A maioria dos homens não nos enxerga como ser humano”, avalia.

Apesar da atual legislação eleitoral garantir a presença de 30% delas em chapas proporcionais, ainda há baixa representatividade. Na Alems (Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul), as 24 cadeiras são ocupadas por homens.

Na Câmara Municipal, que chegou a ser presidida por duas mulheres, duas das 29 vagas são delas atualmente.

Professora aposentada da rede pública, Raquel acredita que ainda faltam oportunidades. “Elas se sentem inibidas. Mas precisam dar a cara a tapa, vir sem medo e sem receio. É preciso perder isso”, aponta.

Dentro do partido, a candidata disse que não enfrentou obstáculos para representar o PT nesta eleição. “Eu não coloquei meu nome [à disposição], o próprio partido me convidou. Essa questão é tratada com tranquilidade dentro do PT, porque sempre valorizamos as minorias”, explicou.

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Prefeita de Iguatemi, Patrícia Nelli. (Reprodução, Facebook)

Candidata à reeleição em Iguatemi, a prefeita Patrícia Nelli (PSDB) também destacou que não enfrentou resistências quando seu nome passou a ser cotado e acabou confirmado em convenção.

“Era vereadora na época, já tinha outro postulante. Tinha a vantagem de estar no Legislativo, e acabamos saindo vitoriosos”, lembra.

Primeira mulher a comandar a cidade, Patrícia viu resistências, mas conseguiu superá-las. Para a prefeita, também faltam oportunidades.

“Tivemos muitas dificuldades para atrair candidatas a vereadora. Infelizmente, é nossa realidade”, pontua.

Em reuniões e conversas com outras mulheres, a prefeita identificou que elas optavam por não se candidatar por causa da família. “As mulheres precisam ver o trabalho de outras. Todo mandato [feminino] precisa de união da classe política. A mulher tem seu jeitinho, de ir realizando”, avalia.

“No meu primeiro ano, quando me reunia com os outros 78 prefeitos, me assustou um pouco. Mas tive que me posicionar. É preciso ter vontade, mas acho que esse sentimento não despertou em todas as mulheres”, finaliza Patrícia.

Capital

Campo Grande já teve uma mulher à frente do Paço Municipal, mas nunca elegeu uma diretamente para o cargo.

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Nelly Bacha em 2012, na convenção estadual do MDB (Arquivo Midiamax)

Entre março e maio de 1983, a presidente da Câmara Municipal, Nelly Bacha (PMDB), comandou a cidade. Durante os últimos anos da ditadura militar, a Capital não escolhia seu prefeito, cabendo ao governador do Estado ou ao presidente da República nomear uma pessoa para o cargo.

Quando Heráclito de Figueiredo foi exonerado, Nelly assumiu o cargo, se tornando a primeira mulher entre as capitais brasileiras a assumir o comando da prefeitura. De lá para cá, elas chegaram perto, apenas na vice-prefeitura.

Marilu Guimarães (PFL) foi vice de Lúdio Coelho (PTB). Ela concorreu à sucessão dele em 1992, mas foi derrotada no segundo turno por Juvêncio da Fonseca (PMDB).

Nelsinho Trad (PMDB) trouxe Marisa Serrano ao Paço Municipal em 2005, mas ela trocou o cargo para assumir uma cadeira no Senado Federal. Desde 2017, Adriane Lopes (Patriota) ocupa a vice-prefeitura.

Desde a volta das eleições diretas para prefeito, as mulheres não foram candidatas em Campo Grande nos anos de 1985, 1996, 2004 e 2012. Além de Marilu, outra postulante que chegou perto foi Rose Modesto (PSDB), derrotada pelo atual prefeito Marquinhos Trad (PSD) em 2016.

Nesta eleição, a Capital tem duas candidatas. Sidnéia Tobias concorre pelo Podemos. E pelo PSOL, há a primeira chapa 100% feminina na história eleitoral, com Cris Duarte e Val Eloy na disputa.