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Especialistas alertam para consequências ambientais de incêndios na Sibéria

Fogo na vegetação já dura semanas, e pode acelerar o degelo do Ártico



Árvores, arbustos e grama secos em chamas à beira do rio Yenisei, na cidade siberiana de Krasnoyarsk, Rússiam em foto de 12 de julho — Foto: Ilya Naymushin/Reuters



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Diversos militantes ecologistas denunciam a “catástrofe” dos incêndios que estão destruindo milhões de hectares de floresta na Sibéria há semanas. Cidades inteiras estão cobertas de fumaça e de forte odor. Os fogos podem acelerar o degelo do Ártico.

Todos os anos, as gigantescas chamas destroem várias florestas da Sibéria e são tão indomáveis que, às vezes, as autoridades preferem deixar que elas sigam seu curso enquanto a população não estiver ameaçada. Mas a amplitude do prejuízo ambiental em 2019 tem preocupado diversas organizações, que temem um efeito no clima a longo prazo.

Segundo as autoridades, mais de 3,2 milhões de hectares foram atingidas pelas chamas nesta segunda-feira (29), sobretudo nas regiões de Iakoutie, Krasnoïarsk e Irkoutsk. Provocados pelas altas temperaturas de 30°C, o fogo foi propagado por ventos fortes, afetando diversas áreas.

A fumaça, com seu forte cheiro, invade centenas de localidades, incluindo cidades grandes das regiões de Tomsk e de Altaï, na Sibéria ocidental, e de Ekaterinbourg e Tchéliabinsk. O funcionamento de aeroportos também foi afetado. “É horrível. Me sinto sufocada e tenho vertigens”, afirmou a aposentada Raïssa Brovikna, que foi hospitalizada.

 

Autoridades sem reação

 

Além das consequências imediatas à saúde da população, os ecologistas temem um fenômeno de aceleração do aquecimento global. Para a ONG Greenpeace, “a situação dos incêndios florestais na parte oriental da Rússia deixou de ser um problema local há muito tempo e se transformou em uma catástrofe ecológica de nível nacional.”

De acordo com a organização, um total de 12 milhões de hectares queimaram neste ano, provocando fortes emissões de CO2 e desmatando diversas áreas que não poderão mais absorver gás carbônico durante muito tempo. “Há também o problema da fuligem que cai na neve e que a derrete ou a escurece, diminuindo a capacidade da superfície de refletir [o calor]”, afirmou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) à AFP.

Cientistas divulgaram no Twitter imagens de satélite da Nasa mostrando impressionantes nuvens de fumaça saindo das chamas e atingindo as áreas do Ártico. Segundo Grigori Kouxine, especialista do Greenpeace Rússia, a fuligem e as cinzas aceleram o degelo da permafrost, uma camada de gelo permanentemente congelada, que libera também um gás causador de efeito estufa.

“As consequências dos incêndios no clima são muito importantes”, adverte Grigori Kouxine. “É comparável ao lixo despejado nas grandes cidades. E isso reforça o problema dos fogos: quando mais o clima é afetado, mais as condições são favoráveis para novos incêndios.”

A maioria dos incêndios florestais ocorre “áreas de controle”, que são afastadas e pouco acessíveis. As autoridades, portanto, se limitam a observar o fogo, uma vez que não há risco iminente à população. “É preciso apagar o máximo possível, desde o início”, estima Grigori Kouxine. “É preciso planejar e investir em meios, mas continuamos a economizar nesse setor porque não traz vantagens econômicas.”