Economia I

Ipea revisa projeção de inflação no ano para 7,1%

A taxa de câmbio também seria uma influência negativa



© José Cruz/Agência Brasil



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27/08/2021 18h01 - Por Agência Brasil

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alterou a projeção para a inflação deste ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi revisto de 5,9% para 7,1%.

Parte da explicação para a mudança é a expectativa de reajustes mais acentuados para a gasolina e a energia elétrica, que remete a uma elevação da projeção de preços monitorados de 9,5% para 11%.

Outra pressão vem dos preços dos alimentos no mercado internacional, que devem fechar o ano acima do esperado anteriormente, em particular as proteínas animais.

Esse movimento eleva a projeção da inflação dos alimentos de 5% para 6,9%.

Os dados estão na Nota de Conjuntura sobre Inflação com informações até julho e a projeção para 2021, divulgada no último dia (24).

'Boa parte dessa revisão grande que a gente fez de IPCA é por conta do que já aconteceu. De fato, o IPCA recente surpreendeu negativamente. Quando a gente fez a última previsão lá atrás, não se esperava reajuste na bandeira.

A gente já estava em bandeira nível 2, mas não esperava ter esse reajuste na tarifa e as commodities que continuaram crescendo ao longo dos meses, então, boa parte dessa revisão que a gente fez no IPCA já está muito contratado do que aconteceu', explicou a autora do estudo e pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea, Maria Andréia Lameiras, em entrevista à Agência Brasil.

Quanto ao mercado internacional, é esperada a pressão vinda das matérias-primas, que combinada com o aumento da utilização da capacidade instalada na indústria e os estoques abaixo do nível desejado, são fatores para a manutenção de alta nos preços dos bens industriais.

A projeção de inflação do segmento subiu de 4,8% para 6,6%.

A aguardada retomada do setor de serviços trouxe o avanço da inflação desse segmento em ritmo maior que o esperado inicialmente. A previsão, então, passou de 4% para 5%.

O Ipea destacou ainda a alta de 4,76% apontada pelo IPCA para o período de janeiro a julho, patamar acima do centro da meta de inflação, de 3,75%.

Embora parte dessa pressão inflacionária ser esperada, diante do represamento de reajustes em 2020, as altas consecutivas das cotações das commodities no mercado internacional e os eventos climáticos adversos, como a longa estiagem e a ocorrência de geadas em regiões de produção agrícola, surpreenderam negativamente e desencadearam novos aumentos de preços de alimentos e de energia.

A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 2021 também foi revista, e subiu de 5,1% para 6,4%.

A Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea entendeu que a alta da taxa de inflação medida por esse indicador, que atinge as famílias que vivem nas áreas urbanas e com salários que variam de um a cinco salários mínimos, deverá ser pressionada pelos preços monitorados e dos alimentos, com altas previstas de 10,5% e 7,9%, respectivamente.

Anteriormente, os percentuais projetados eram de 9,2% e 5,2%, respectivamente.

Para o ano que vem, as previsões levam em consideração uma acomodação nos preços internacionais das commodities e na baixa probabilidade de um fenômeno climático adverso intenso, como ocorreu este ano com a falta de chuvas e geadas.

Se confirmando as previsões, a pressão sobre alimentos, combustíveis e energia elétrica seria menor.

As projeções contam ainda com uma retomada mais forte do mercado de trabalho e os seus efeitos positivos sobre a demanda.

Além disso, a sinalização de permanência da trajetória de alta de juros pode contribuir para reduzir as variações de preços de bens e serviços. Foi com este cenário que o Ipea projetou o IPCA em 4,1% e 3,9% para o INPC.

O Ipea acrescenta, no entanto, que os riscos à inflação em 2022 seguem associados aos preços das commodities e à taxa de câmbio.

De acordo com Maria Andréia Lameiras, para os próximos meses e para 2022, apesar da pressão sobre a inflação possa ser menor do que se verificou até julho, há uma preocupação com os preços livres, como bens industriais e serviços.

'[A] Taxa de bens industriais tem pressão de custo, com aumento de commodities que tem impactado o custo de matérias primas.

A gente está vendo também o aumento da capacidade instalada, os estoques estavam reduzidos.

De fato, tem um movimento de preços administrados e os preços de serviços, que a gente já sabia que ia acontecer e estão se mostrando um pouco mais fortes do que a gente estava prevendo inicialmente', disse.

Para a pesquisadora, a vacinação tem avançado rapidamente e em consequência o aumento da mobilidade nas cidades, que vem ocorrendo, está aparecendo no setor de serviços.

Isso está gerando uma recomposição mais rápida dos preços de serviços e é esperado que este cenário continue para 2022.

'Se olhar que estamos saindo de 7,1% para 4,1% no ano que vem, é um cenário de desaceleração, sim, mas quando a gente olha para o número de 4,1%, ele não é um número confortável e está acima da meta.

É um número que vai ser conseguido, mas às custas de continuidade de uma política monetária contracionista.

A gente está imaginando que o ciclo de altas de juros do Banco Central vai continuar em 2022 e a gente sabe que isso controla a inflação, mas traz também perda para o nível de atividade.

Embora seja um cenário melhor e de desaceleração, ainda não é um cenário inflacionário confortável', disse.

Conforme a pesquisadora, os riscos para a inflação no ano que vem são a possibilidade de se repetir, pelo segundo ano consecutivo, uma pressão do fenômeno climático La Niña, que interferiria na capacidade dos reservatórios e obrigaria o uso mais demorado de termelétricas, o que encarece o preço da energia.

Além disso, um novo reajuste na bandeira 2 traria uma pressão adicional sobre energia elétrica.

O quadro se agravaria no caso de manutenção da trajetória de preços de commodities, que pode crescer com uma força maior e gerar novos aumentos, somada à pressão no preço do petróleo. A taxa de câmbio também seria uma influência negativa.

'Embora a gente espere um mercado de trabalho mais dinâmico no ano que vem, as previsões de crescimento para o ano que vem ainda estão compatíveis com um cenário que a gente não consegue ver uma explosão na demanda, então, tem o mercado de trabalho melhor, mas as pressões de demanda neste momento não são muito grandes para o ano que vem.

Agora, tem um problema crucial, porque se tiver algum movimento ou alguma instabilidade no país que gere um ciclo de desvalorização do câmbio a gente sabe que isso vai bater forte na inflação', explicou.

'Ano que vem tem eleição e tem as reformas que ainda estão paradas no Congresso, e isso está trazendo alguma instabilidade.

Se a gente tiver esse cenário de nova crise climática, aceleração grande de preços de commodities e, principalmente, o câmbio desvalorizando, de fato o 4,1% [para o IPCA] acaba sendo uma previsão otimista.

Nesse momento, a gente não vislumbra nenhuma dessas três coisas, mas os riscos existem e não podem ser desconsiderados', disse.