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Dez anos após desastre de Fukushima, Japão tem mais de 30 mil 'refugiados nucleares'

Nesta quinta-feira (11) o Japão lembra os dez anos do desastre que atingiu a região nordeste do país: um forte terremoto, um gigante tsunami, que provocou um dos maiores acidentes nucleares da história.



Homenagem às vítimas do terremoto e do tsunami que mataram milhares de pessoas em Fukushima, em 2019 — Foto: Kyodo/via Reuters



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Dez anos após o desastre que marcou a região de Tohoku, no nordeste do Japão, mais de 30 mil pessoas ainda não conseguiram voltar para suas casas na província de Fukushima, devido aos riscos da radiação. Três províncias foram duramente atingidas pelos desastres naturais de 2011 (um terremoto e um tsunami de proporções históricas): Fukushima, Iwate e Miyagi.

Fukushima vivenciou uma terceira tragédia, um acidente nuclear com o colapso dos reatores da Usina Nuclear de Fukushima Daiichi. Foi uma catástrofe artificial provocada principalmente por erro humano, como constatou o comitê de investigação independente

Uma década depois da tríplice tragédia, Fukushima enfrenta diversos impasses: o destino da água e da terra contaminadas pela radiação, o futuro de milhares de desabrigados e o desfecho para famílias com pessoas desaparecidas até hoje.

Mais de 2,5 mil pessoas são consideradas desaparecidas na província. No fim de fevereiro, restos mortais de uma japonesa de 61 anos desaparecida desde o tsunami foram descobertos. Em declaração divulgada pela polícia japonesa, seu filho revelou que a descoberta lhe deu um ponto final. “Isso me permitirá pôr minhas emoções em ordem e seguir em frente”, declarou.

No limbo

Um ponto final também é o que esperam os evacuados desde 2011. O colapso da usina provocou o vazamento de material radioativo por diversas cidades, o que deixou milhares de desabrigados “oficiais” e “não-oficiais”. Os oficiais são que os que foram ordenados a deixar suas casas às pressas após a catástrofe: mais de 160 mil pessoas foram evacuadas, de acordo com dados de 2012, no primeiro levantamento feito pela província. Os não-oficiais são os que decidiram fugir por conta própria antes da ordem das autoridades, movidos pelo medo da radiação.

Ao longo da década, autoridades foram liberando algumas áreas para retorno dos antigos moradores. Mas, de acordo com os dados do governo de Fukushima de dezembro de 2020, ainda há mais de 36 mil pessoas vivendo na condição de evacuados – ou, como ativistas preferem designar, “refugiados nucleares”.

Isso quer dizer que até hoje milhares de japoneses vivem um tipo de limbo físico e jurídico, pois as áreas onde moravam ainda não foram liberadas e não se sabe se um dia serão. Aqueles que deixaram seus lares sem ordens expressas de evacuação muitas vezes são invisíveis às políticas de reconstrução, como a possibilidade de reivindicar indenizações financeiras.

Nesta terça (9) o governo aprovou uma diretriz que determina que as operações da agência da reconstrução sejam estendidas por mais dez anos, até 2031, a um custo estimado em US$ 15 bilhões (o equivalente a quase R$ 90 bilhões). Cuidados com o bem-estar psicológico da população e a instalação de centros de ciência e educação para revitalizar a região estão entre os pontos da nova política.

Teoricamente, o assunto é tido como prioridade máxima do governo japonês. Nas palavras do premiê Yoshihide Suga, sem reconstruir Fukushima, a região nunca será restaurada; e sem restaurar a região, o Japão jamais será revitalizado.

Impasses olímpicos

O primeiro-ministro visitou a província de Fukushima no último fim de semana. Suga passou por cidades como Okuma e Futaba, onde fica a usina nuclear de Fukushima, e depois se reuniu com moradores para conversar sobre os esforços de reconstrução em curso. Na opinião do premiê, todos os moradores que tiveram de deixar suas casas por conta do acidente nuclear de 2011 vão poder retornar “um dia”.

Esta foi a segunda visita de Suga à região desde que assumiu o governo, no fim de 2020. A próxima deve ocorrer no fim deste mês, para a cerimônia de 25 de março, que marcará o início do revezamento da tocha olímpica, rumo à Tóquio-2021. A cerimônia não será aberta ao público, como medida de segurança e saúde para evitar aglomerações e impedir a disseminação do novo coronavírus, sinalizou a agência pública NHK.

Partindo de Fukushima, como símbolo de reconstrução, a tocha passará por todas as 47 províncias japonesas ao longo de 121 dias, mas tampouco foi divulgado oficialmente se os eventos serão abertos ao público. Outra indefinição é a presença de torcedores nas arquibancadas dos Jogos Olímpicos. Em 18 de fevereiro, a presidente do comitê organizador da Olimpíada, Seiko Hashimoto, disse que não se estava considerando a possibilidade de realizar os jogos sem espectadores. Em 9 de março, porém, a Kyodo News informou que os dois torneios, a Olimpíada e a Paralimpíada, não terão espectadores estrangeiros.

Uma fonte não-identificada citada pela agência japonesa informou que o governo teria tomado a decisão por causa do temor do público japonês diante da pandemia, principalmente com a identificação de variantes do vírus em outros países. A decisão iria na direção de uma enquete recente realizada pelo jornal japonês Yomiuri, que indicou que 77% dos entrevistados são contra a presença de torcedores vindos do exterior. A decisão final, entretanto, ainda não foi confirmada. Não será surpresa se for anunciada aos 45 do segundo tempo.