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A tradição da família japonesa que registrava tudo no interior de MS

Na França, jornalista sul-mato-grossense revive passado ao receber fotografias emocionantes de sua família



Família Yasunaka, que vivia em Vicentina, e tinha nela um fotógrafo talentoso. (Foto: Museu Fotográfico Masua Yasunaka))



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Hoje não é dia de #TBT, mas poderia. Isso porque uma seleção de fotos recebidas nos últimos dias emocionou a jornalista sul-mato-grossense, Patrícia Nascimento, de 49 anos, que hoje mora na França, é escritora e terapeuta num pequeno distrito. As imagens que chegaram por e-mail e redes sociais trazem o olhar de um fotógrafo de família japonesa que marcou a vida de moradores da região de Vicentina, especialmente na década de 50, 60 e 70.

O fotógrafo era Masuo Yasunaka, já falecido, mas que registrou o cotidiano de muitas famílias no interior e o crescimento das regiões. Foi ele que na infância de Patrícia a inspirou na vida adulta a escrever com a luz, ou seja, fotografar.

E receber as fotografias antigas por meio de um dos filhos do fotógrafo foi uma mistura de emoções para Patrícia, que há anos se despediu do Brasil para tentar uma nova vida. “Foi mais que reviver. Foi me nutrir da energia de um tempo de amor, amizade, trocas riquíssimas naquele tempo', descreve Patrícia.

Trocas essas que se entrelaçam com o interesse de Patrícia pela imigração, pela fotografia e a cultura japonesa que, segundo ela, influenciou sua personalidade. “Por volta dos 9 anos, participei de encontros da Seycho No Yê e as leituras daqueles livros tiveram um impacto bem grande. O contato com os ensinos se estendeu por toda minha minha vida. E ainda que eu não tenha frequentado o templo de maneira sistemática, aqueles ensinamentos ficaram fortemente gravados e fazem parte da base dos meus valores humanistas', diz.

Por isso, Patrícia diz que recebeu, emocionada, as fotos do filho do Masuo Yasunaka, o fotógrafo então conhecido na região em que ela nasceu e cresceu. Masuo e seu sobrinho Ossamu eram os fotógrafos da região de Fátima do Sul e Vicentina.  Japoneses imigrantes que vieram para o Brasil entre 1954 e 1956, registraram o cotidiano e os moradores.

Masuo tinha um estúdio aonde fotografou muitos moradores, especialmente a mãe de Patrícia pronta para se casar. E Ossamu registrou o casamento dos pais dela, a festa, a infância da escritora sul-mato-grossense.

“Fotografou a posse do meu tio Júlio Bastos como prefeito de Vicentina e do meu avô como vereador. E muitos momentos importantes da vida de muita gente numa época em que fotografar era um momento mágico e solene e as câmeras eram raras', destaca.

Olhar para as fotos foi um encontro gostoso com um passado não apenas pessoal ou da família, mas também uma forma de reencontrar um Brasil rico de possibilidades para imigrantes, acredita Patrícia.

Ela ressalta que em município tão pequeno como Vicentina, conviver com tantos imigrantes (japoneses, suíços, italianos, alemães, libaneses e russos) aguçou sua curiosidade pelo mundo. “E assim que terminei a universidade de Jornalismo, em 1997, coloquei a mochila nas costas e fui conhecer vários países da Europa e depois, Singapura e Índia', lembra.

Na Índia, trabalhou como assessora de imprensa da Macha Global Contra o Trabalho Infantil, com o Nobel da Paz, Kailash Satyarthi, no ano 2000.

E em 2001, retornou para o Brasil e fundou com o Stephan Hofmann, publicitário e fotógrafo suíço que emigrou para o Brasil, a agência de jornalismo especializada em direitos da criança e adolescente, Gira Solidário.

Em 2008, Patrícia mudou para a França com seu marido, o francês Jean-Philippe e o filho Luka. “E comecei a dar aulas de fotografia para crianças', conta. “Como um girassol que se move em torno do sol, vou unindo a paixão da minha infância, escrever com a luz, e o amor pelas diferentes culturas das mais variadas nações com as quais convivi através da experiência da imigração'.

E como as redes sociais estão diminuindo o tempo e o espaço, Patrícia segue na França, o fotógrafo Ossamu Yasunaka em São Paulo, seu primo Alberto Hadime no Japão e, através do Facebook, eles trocam constantemente imagens que são fragmentos do passado. “Isso nos ajuda a integrar o presente com muita felicidade', finaliza.