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Passaporte para vacinados também causa apreensão em Israel

Especialistas levantam questões éticas sobre divulgação de dados de quem não foi imunizado contra a Covid-19 e temem o agravamento da desigualdade.



Israelenses mostram seu 'passe verde', que comprova que tomaram as duas doses de vacina contra Covid-19, antes de entrarem num concerto organizado em Tel Aviv apenas para idosos imunizados, em 24 de fevereiro — Foto: AFP/Jack Guez



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Em ritmo ainda lento, a vida começa a voltar ao normal em Israel, onde 30% da população já receberam as duas doses da vacina contra a Covid-19 e ganharam o “passe verde”. Lançado há uma semana, o aplicativo permite aos imunizados o acesso exclusivo a academias, hotéis e teatros -- atividades proibitivas aos demais mortais.

À primeira vista, o passaporte digital parece uma maravilha, espécie de carta de alforria para quem passou o último ano confinado e privado de viagens, atividades culturais e esportivas que demandam aglomerações.

 

Levanta, contudo, preocupações entre especialistas de que possa acirrar a desigualdade no país, criando uma hierarquia de privilégios apenas para os que foram vacinados. Se lembrarmos que 80% das 210 milhões de doses aplicadas em todo mundo estão concentradas em apenas 10 países, fica mais claro o contexto da disparidade entre os que se livram do novo coronavírus com mais rapidez.

 

Na dianteira, Israel já administra o imunizante em grupos de jovens acima de 16 anos. A equação para estimular a prática pode ser simples, como explicou o ministro da Saúde, Yuli Edelstein: quem não se vacina vai apenas ao supermercado ou à farmácia, enquanto os que portam o passaporte digital podem frequentar estádios e academias.

 

Mas se revela complexa, quando empregadores anunciam a intenção de proibir a presença de funcionários que não foram imunizados nos locais de trabalho ou de exigir que apresentem um teste negativo de Covid-19 a cada 3 dias. Sem falar em ameaças de demissões denunciadas por sindicatos de empregados, como forma de coação.

 

Embora metade da população já tenha recebido a primeira dose, um quarto dos que ainda não foram vacinados afirma que não pretende fazê-lo, segundo pesquisa publicada pelo site “Times of Israel”. A vacinação não é obrigatória em Israel, mas, para a apreensão de entidades de direitos civis, o ministro da saúde sentencia a sina de grupos céticos ou impossibilitados de se imunizar: “Ficarão para trás.”

O governo vem enfrentando mais críticas por também deixar para trás os palestinos, residentes de Cisjordânia e Gaza, em seu programa de vacinação, distribuindo remessas restritas de imunizantes nos territórios sob controle de Israel.

Há ainda outro agravante, a violação da privacidade dos cidadãos, que também preocupa a Associação de Direitos Civis em Israel. O Parlamento israelense aprovou esta semana uma lei que permite ao Ministério da Saúde fornecer às prefeituras nomes e outros dados de israelenses que não tomaram a vacina.

 
Isso tudo dá munição aos grupos que pregam contra a vacinação e deflagram mensagens distorcidas. Manifestantes denunciaram em protestos o passaporte digital como forma de apartheid e compararam os passes verdes às estrelas amarelas que os judeus eram obrigados a portar durante o nazismo.

 

Tal analogia foi execrada pelo Museu Yad Vashem, confome exprimiu em comunicado: “Explorar estes termos, a fim de incitar e inflamar o ódio, profanou a memória do Holocausto.

Pioneiro na aplicação de vacinas, Israel testa agora se o “passe verde” servirá mesmo como instrumento de verificação de que seus cidadãos estão livres da ameaça do novo coronavírus.