Policial

Zaqueu cresceu com a mãe em cárcere privado, torturada e espancada pelo pai

O jovem é filho de dona Cira, mantida em cárcere pelo marido por 22 anos no Aero Rancho e libertada em 2013 Alana Portela



Ela dizia que era em setembro e ele teimava dizendo que era no mês de agosto. Isso já era motivo para dar socos e tapas, e fazê-la sangrar”, conta.



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Foram dez anos de sofrimento, amarrado, espancado e agredido verbalmente. O mais sórdido nessa história foi ver a mãe trancada pelo marido em casa, ao lado de outros três irmãos menores, todos apanhando diariamente do pai. A vida de Cira da Silva virou inferno depois do casamento com Ângelo da Guarda Borges. Para Zaqueu Borges, hoje com 20 anos, as dores só começaram a diminuir em 2013, quando ele e a família foram resgatados pela polícia da casa onde moravam no bairro Aero Rancho, “Ufa, saímos daquele inferno”, lembra o jovem, que hoje tem vontade de se tornar o pai que nunca teve.

O sofrimento atinge qualquer um só de ouvir os relatos do rapaz. “A gente vivia trancado, sofria agressões verbais e físicas. Meu pai bebia direto, xingava minha mãe e batia. Se lhe dava um prato de comida e tivesse sem sal, ele jogava o prato nela ou na parede. Nós chorávamos apavorados, não conseguia fazer nada na época, e se fizesse, ele dava porrada, pegava o que aparecesse na frente e jogava em nós”, recorda Zaqueu sobre os dias de desespero.

O jovem hoje é casado, trabalha fazendo bicos e faz curso de gestão de estoque no período noturno. Foi vítima de uma história que chocou a cidade em dezembro de 2013, quando por meio de uma denúncia anônima, a polícia bateu na porta da casa onde vivia para libertá-los do cárcere privado. A protagonista, dona Cira, ficou presa na residência por 22 anos, humilhada e agredida na frente de Zaqueu e de mais quatro filho que hoje têm, 11, 15,19 e 20 anos.

“Ele já pegou uma mangueira de gás, fio de energia e batia na gente. Eu ficava numa beliche, na parte de cima, e lá vinha ele me bater a noite toda. Jogava coisas na minha mãe. Às vezes, deixava a chave da casa com ela, para receber algum material de construção. Queríamos sair de lá, mas sentíamos medo, receio dele vir atrás”, conta o mais velho dos irmãos. Zaqueu recorda que certa vez, a mãe foi até a delegacia prestar queixas contra Ângelo, no entanto, como não tinha provas, retornou para o local e teve que aceitar a vida que levava.

“Fomos de ônibus à delegacia, ficamos o dia todo lá, tentamos prestar queixa, mas não conseguimos porque não tinha provas. Tivemos que voltar para casa, meu pai já estava lá e ficou xingando”, lembra Zaqueu, com a cabeça baixa, visivelmente abalado pelas recordações. “As coisas ruins eram sempre com meu pai, chegou até a me amarrar e me agredir o dia inteiro no terreno da casa”.

Apesar de ter sido espancado várias vezes, Zaqueu afirma que o que mais marcou, na época, era ver a mãe e os irmãos sofrendo. “Era o que mais me machucava. Meu pai já bateu na minha mãe por conta da data do meu aniversário. Ela dizia que era em setembro e ele teimava dizendo que era no mês de agosto. Isso já era motivo para dar socos e tapas, e fazê-la sangrar”, conta.