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Na frente de juiz, Name oferece propina de até 600 milhões e ameaça policial

Falas foram gravadas durante audiências sobre apreensão de arsenal e obstrução de justiça



MARTA FERREIRA / CAMPO GRANDE NEWS



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Preso desde setembro do ano passado, o empresário Jamil Name, 81 anos, vai ser investigado por mais duas suspeitas de crimes, cometidas durante audiências em processos derivados da operação Omertà.

Os fatos envolvem oferta de até R$ 600 milhões em propina ao membros do Judiciário e ainda ameaça a policial civil que fez parte das investigações.

A proposta de suborno ocorreu no dia 29 de maio, durante vídeo conferência sobre arsenal de armas, considerado estopim da operação contra milícia. No fim do depoimento, Name ofereceu dinheiro para ter decisão favorável ao retorno dele a Campo Grande ou em troca de mandado para tratamento em São Paulo, no Hospital Sírio Libanês. Ele está no Rio Grande do Norte, desde outubro de 2019.

Embora tenha ocorrido quase um mês atrás, o vídeo comprovando a fala só ficou disponível agora. Na gravação, Jamil pede no minuto 36 para se manifestar ao “doutor', como chama o titular da 1ª Vara Criminal, Roberto Ferreira Filho, responsável pelo processo.

“Eu preciso conversar com o senhor', diz. O juiz autoriza e ele continua: “Doutor, o senhor podia fazer um grande favor. É o maior favor que eu já pedi na minha vida', define. Reclama de estar “bloqueado' em Mossoró há 150 dias, sem falar com o advogado, mesmo com o profissional morando lá e classifica a si mesmo como “todo esculhambado'.

“Tô numa situação triste', prossegue. “O senhor vê que eu to falando quase chorando'. Em tom de apelação, pede para o juiz devolvê-lo a Campo Grande. “É duro viu, é duro', lamenta.

'Negociata de malandro' - É aí que vem a fala sobre dinheiro. “Se passar pelo doutor lá de cima, o senhor pode dizer para ele mais uma coisa. Que ele me tirando daqui amanhã, que de 100 a 600 milhões, vão aparecer dentro do juízo dele, de negociata de malandro, o senhor está entendendo, né? Na frase, o valor é repetido.

“Na verdade não, mas tudo bem, está registrado aqui', afirma Roberto Ferreira Filho.

O depoimento termina com o advogado Tiago Bunning pedindo para Jamil Name esclarecer fala em interrogatório feito por delegados de força-tarefa da Polícia Civil, de que não teria doenças. “Eu não tenho mental, mas tenho crônica', responde. Conta ter sido operado pelo menos três vezes e estar “todo remendado', aos 81 anos.

Veja o vídeo abaixo:

“Tem que morrer' – Em outra audiência de ação criminal, nesta semana, com o mesmo magistrado, dessa vez já depois de encerrado depoimento de investigador do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), no fim da sessão, Name profere xingamentos contra o policial. Esse processo é por crimes que envolvem justamente tentativa de atrapalhar as investigações, obstruindo a justiça.

Esse vídeo não está disponível ainda, mas o relato, confirmado pelo magistrado e por outras pessoas que estavam presentes, é de que houve ameaça. Name, conforme apurado, chamou o policial de “vagabundo' e disse que ele “tem de morrer'.

O magistrado, ao ser ouvido pelo Campo Grande News, informou ter advertido Jamil Name na hora e alertado o representante do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) MP para tomar providências. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), segundo levantou a reportagem, solicitou a gravação para as medidas cabíveis.

Em relação à audiência anterior e a oferta de dinheiro, Roberto Ferreira Filho disse que o MPMS também pode adotar providências e que esse fato constará da sentença do processo.

Perguntado se sentiu ofendido, o magistrado deu a seguinte resposta: “ofendido não me senti. Sei que alguém sob pressão às vezes passa da conta. Mas não tinha como deixar passar em branco'.

As falas de Name podem ser interpretadas como crimes de corrupção ativa, ameaça e obstrução de justiça.

O que diz a defesa - Procurados, os advogados Tiago Bunning e Rene Siufi, enviaram manifestação ao Campo Grande News. 'Jamil Name em razão da idade avançada, 81 anos, somado aos diversos problemas de saúde e, principalmente ao brutal isolamento que está submetido em um presídio federal, em regime de RDD e sem contato com familiares e advogados por conta da pandemia, obviamente começa a sofrer redução de seus processos cognitivos assim como a visão da realidade começa a ficar deturpada, isso fica claro em todas as suas declarações'.

O texto prossegue dizendo que, 'nestas condições, a defesa teme por sua saúde física e mental' e repete o argumento em defesa da transferência do preso para Campo Grande. 'Tudo isso somente comprova a necessidade imediata de sua transferência para que fique próximo da família e de seus advogados, demonstrando também que o mais adequado seria a urgente concessão de uma prisão domiciliar.'

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), responsável pela acusação na Omertà, foi procurado, mas ainda não deu retorno à reportagem.