Policial

Gaeco denuncia oficiais da PM em esquema que rendia propina de R$ 150 mil

Planilhas apreendidas pela Polícia Federal mostram pagamento para “pexe”, “cacique águia” e “domi pre”





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Presos em operação contra a Máfia do Cigarro, seis oficiais da PM (Polícia Militar) foram denunciados à Justiça por participação em organização criminosa e corrupção passiva.

Derivada da operação Oiketicus, que nesta última fase foi batizada de Avalanche, a denúncia foi protocolada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e pela 24ª Promotoria na última sexta-feira (dia 5). O valor da propina variava de R$ 10 mil a R$ 150 mil.

Além da condenação pelos crimes, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) pede a perda do cargo do coronel Kleber Haddad Lane (que era titular da Superintendência de Assistência Socioeducativa), do tenente-coronel Carlos da Silva (então comandante da PM de Dourados), do tenente-coronel Jidevaldo de Souza Lima (que chefiava a 4ª Seção do Estado-Maior), do tenente-coronel Josafá Pereira Dominoni (preso no comando da 5ª Companhia da PM de Campo Grande), do tenente-coronel Wesley Freire de Araújo (que comandava a PM em Naviraí) e do major Luiz Cesar de Souza Herculano (que era comandante em Coxim).

De acordo com a promotoria, a conduta dos oficiais foi da mais alta gravidade, além de “ferir frontalmente o decoro da classe, o pundonor e o sentimento de dever, de maneira que se torna incompatível com a atividade policial militar”.

Após a operação, deflagrada em 16 de maio, os comandos foram trocados e todos os presos afastados das funções.

Com provas compartilhadas da operação Nepsis, em que a PF (Polícia Federal) investiga a Máfia do Cigarro, o Gaeco aponta que os denunciados também integravam , ao menos desde 2016, a organização criminosa formada para dar suporte aos contrabandistas de cigarros.

Cacique Águia – A investigação, que abarca os anos de 2016 a 2019, aponta que o coronel Haddad, que comandou o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) a partir de 2017, é o “cacique águia” citado em planilha apreendida com contrabandista na operação Nepsis. Ao lado da nomenclatura, consta o valor de R$ 150 mil. O DOF, criado para atuar no patrulhamento rural, tem como logomarca uma águia.

Josafá Dominoni foi investigado no período em que esteve no Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual. A planilha é relacionada a ele num trecho que cita a saída de R$ 20 mil para “acerto domi pre”.

Já Wesley Freire de Araújo estava no comando da PM de Amambai em 2017. O oficial foi citado em conversa de WhatsApp por Fábio Costa, o Pingo, ex-policial militar que recrutaria policiais para a Máfia do Cigarro.

Ele orienta que o gerente financeiro da quadrilha libere R$ 20 mil “referente ao comandante de Amambai”. A mensagem foi reencaminhada para Ângelo Guimarães Ballerini, alvo da Nepsis por chefiar contrabando de cigarro.

No comando da PM de Dourados desde 2015, Carlos da Silva é apontado como o “Pexe” da planilha dos contrabandistas. De acordo com a denúncia, dentre as citações encontradas nas planilhas verificou-se várias indicações com a expressão “Pexe”, como “TÁTICO PEXE, CHEFE PM PEXE e P2 PEXE”.

“Através de atividades de inteligência e uma dedução lógica, concluiu-se que ‘PEXE’ seria a cidade de Dourados/MS, visto que a unidade policial militar do município possui no seu organograma Grupamento Tático, Agência Local de Inteligência, antigamente e ainda por alguns chamada de ‘P2’, logo o ‘CHEFE PM’ seria o comandante da unidade, neste caso o TC PM CARLOS SILVA”

As planilhas também trazem valor de 10 mil para “chefe coxim”. Para a investigação, a nomenclatura identifica Luiz Cesar de Souza Herculano, que desde 2018 comandava a PM em Coxim.

A denúncia traz um comparativo entre valores, mostrando que um “cacique águia” no comando da DOF receberia bem mais. Para o Gaeco, o valor era distribuído no departamento e ainda cita a circulação de malas de dinheiro no DOF.

A operação também prendeu Erivaldo José Duarte Alves, oficial da reserva e ex-comandante em Sidrolândia. Mas de acordo com a denúncia, constatou-se que o “Chefe Cida” era o então major Jidevado de Souza Lima. Ou seja, ele foi preso, mas sem ter ligação com o esquema.

A denúncia de 176 páginas foi protocolada na Auditoria Militar. A peça processual é assinada pela titular da 24ª Promotoria de Justiça, Tathiana Correa Pereira da Silva Façanha, e quatro promotores do Gaeco: Tiago Di Giulio Freire, Thalys Franklyn de Souza, Marcos Roberto Dietz e Gerson Eduardo de Araujo.

Defesas – A defesa de Jidevaldo de Souza Lima já se manifestou ao Campo Grande News e disse que o oficial provará a sua inocência. Como prova do “comportamento exemplar” do cliente, o advogado Thiago Bunnig declarou em 29 de maio que apresentaria  ofício, datado de janeiro de 2018, em que o comandante pede a transferência de policiais suspeitos de facilitar a passagem de contrabandistas pelas estradas da região.

A defesa do coronel Kleber Haddad Lane e do tenente-coronel Erivaldo José Duarte Alves tentará revogar os mandados de prisões. O Campo Grande News não conseguiu contato com os demais citados.