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Técnica campeã nacional, Tatiele diz que futebol feminino precisará se reinventar

No ano passado, ela dirigiu a equipe de Araraquara (SP) na conquista do título do Campeonato Brasileiro



Tatiele Silveira. (Foto: divulgação)



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Em ascensão no Brasil, com o aumento do interesse do público e a entrada efetiva e de modo competitivo de grandes clubes, o futebol feminino sofreu um baque nas últimas semanas por causa da paralisação de todas as atividades em função do surto do coronavírus no País. Para seguir fortalecido, será preciso resiliência e se reinventar, na avaliação de Tatiele Silveira, técnica da Ferroviária.

No ano passado, ela dirigiu a equipe de Araraquara (SP) na conquista do título do Campeonato Brasileiro, se tornando a primeira mulher a vencer o torneio como treinadora. Além disso, possui vasta experiência na modalidade, tendo também comandado o Internacional, clube pelo qual foi jogadora. “Teremos que nos reinventar. Por mais que ocorram cortes, o futebol feminino sempre foi resiliente. O mais importante é a manutenção da modalidade”, afirmou.

O Brasileirão Feminino começou 2020 com grande visibilidade. Os jogos, afinal, tinham exibição pela Band, na TV aberta, e pelo Twitter, sendo um jogo por rodada. As demais partidas eram transmitidas pela CBF TV em um canal de streaming no site Mycujoo. Além disso, os quatro clubes que conquistaram o acesso na temporada passada reforçaram a presença das principais potências do futebol masculino: São Paulo, Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro.

“Estava numa crescente, com transmissão em rede aberta e streaming, pela CBF e a Federação Paulista. Isso colabora para a maior divulgação dos patrocinadores”, comenta Tatiele, destacando que a manutenção da exposição dos apoiadores será fundamental para o futebol feminino. “Estamos inseridos no contexto do futebol, em evidência por estarmos em estruturas maiores, com a chegada de clubes tradicionais”, acrescentou, em entrevista coletiva “remota”.

A pausa no calendário já provocou mudanças no futebol feminino em 2020 no Brasil. Em um exemplo do crescimento da modalidade, o Campeonato Paulista teria 16 participantes, quatro a mais do que no ano passado, com todas as equipes se enfrentando na primeira fase, que seria seguida de mata-mata, a partir das quartas de final. Além disso, estava definido que seria realizado de abril até agosto.

Essa programação, porém, precisou ser revista. Reunião recente do Conselho Técnico da competição anulou o regulamento anterior. E determinou que uma nova fórmula de disputa, provavelmente mais enxuta, embora ainda indefinida, será adotada. “O formato inicial não vai acontecer. Não sabemos se todas as equipes seguem e quantas datas teremos”, afirmou Tatiele, indicando o cenário de incerteza.

Para minimizar os efeitos da crise, a CBF anunciou apoio financeiro para os times que disputam as duas divisões nacionais do campeonato nacional feminino, sendo R$ 120 mil para as equipes da Série A1 e R$ 50 mil para cada participante da Série A2. Um apoio bem-vindo, nas palavras de Tatiele, mas que precisa ser bem usado pelos clubes e que não resolverá todos os problemas.

“É importante, mas depende da realidade de cada clube. vai precisar da ajuda da CBF, das federações. Essas iniciativas colaboram, mas não são a solução dos problemas. A gente vê com bons olhos, mas o importante é ver como isso vai ser redistribuído aos elencos”, comenta.

Organizado pela CBF, o Brasileirão foi paralisado em 15 de março, quando se disputava a quinta das 15 rodadas da sua fase de classificação. O torneio era liderado pela Ferroviária, de Tatiele, e também pelo Santos, com ambos tendo vencido os quatro primeiros jogos. Com o torneio interrompido há cerca de dois meses, e sem qualquer previsão para volta, a treinadora reconhece que o prejuízo físico é óbvio.

“Mantemos as atletas em treinamento para ter uma perda física mínima. Mas terá perda, porque estávamos em evolução, depois de pré-temporada e com os treinos. Estamos indo para a sétima semana de paralisação e sem saber quando será o retorno. A ideia agora é minimizar as perdas”, afirmou.

Enquanto a retomada dos treinos é impossível, a Ferroviária trabalha com o grupo remotamente. O clube utiliza plataformas online, faz videoconferências com o elenco e passa os trabalhos que precisam ser realizados semanalmente. E Tatiele revela uma preocupação especial com o aspecto psicológico das atletas em um período de confinamento e incertezas.

“Estamos aprendendo a trabalhar sem a parte prática, com conversa e análise. E aí entra também a importância das relações interpessoais. Precisamos trabalhar a observação e a percepção”, finaliza a treinadora, que tem buscado dialogar diretamente com algumas jogadoras para entender suas dificuldades pessoais.