Mato Grosso do Sul

Pesquisa mostra revolução no modelo produtivo de MS com efeito pandemia

Dados iniciais da UFMS indicam que mudanças antes lentas, de até um ano e meio, agora levam semanas para serem implementadas



Computador e máscara, o teletrabalho pandêmico (Foto: Henrique Kawaminami)



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Revoluções aceleram mudanças que as evoluções levam muito, muito tempo. Ainda é cedo para fazer afirmações consolidadas em meio ao furacão trazido pela pandemia do novo coronavírus, mas uma pesquisa integrada e conduzida por cientistas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) já permite as primeiras apostas. Uma delas é que em 1 mês, 90% das empresas avaliadas por pesquisadores indicam que a pandemia revolucionou o modelo de produção do estado.

As revoluções industriais aceleraram a produção e aumentaram a possibilidade de fornecimento de bens de consumo em todo o mundo a partir da Europa e depois, Estados Unidos e países asiáticos como o Japão. Mudanças como a máquina a vapor, eletricidade e redes de comunicação trouxeram novos modelos de escala de produção e a organização do chão de fábrica.

Agora, novo modelo, pautado ainda mais pela tecnologia de informatização e processamento, mas também pela redução do contato humano, parece estar em curso. É o que indica pesquisa realizada pela professora Camila da Silva Serra Comineti, mestre em administração de empresas e docente do curso de Engenharia de Produção da UFMS. Ela e outros diversos pesquisadores de cursos variados – como professores e alunos da Escola de Administração e Negócios e do curso de Psicologia – querem ajudar os donos de pequenos negócios a sobreviverem e se reinventarem perante a crise.

Ajudar os pequenos - A ideia é publicar, depois da pesquisa terminada, uma plataforma com informações, materiais e dados voltada aos pequenos empresários. Para isso, há cerca de duas semanas a equipe da professora aplica questionário online chamado “Produção e operações na COVID-19' que coleta informações sobre como o espaço de trabalho está sendo organizado depois da pandemia.

Qualquer funcionário ou proprietário pode responder o questionário online. Clique aqui.

“Já começamos a coleta de dados e estamos tentando identificar algumas soluções na área que a gente trabalha e, também, em paralelo, há realmente essa necessidade de ajudar. A gente sabe que os pequenos estão enfrentando vários problemas no momento. A gente precisa tentar identificar e ficar sabendo o que cada um está fazendo. Tem empresas que tiveram que fechar definitivamente, outras temporariamente com as portas fechadas, e há mudanças tanto na forma de trabalho diferente como mudando modelo de negócio', explica Camila.

Até agora foi possível analisar 41 empresas de Mato Grosso do Sul. “Com as medidas de prevenção ao COVID-19 iniciadas em março de 2020, 90% das empresas respondentes mudaram aspectos internos de operação como a forma de planejar e controlar a produção, de movimentar e armazenar suas mercadorias, de gerir a manutenção, bem como a forma de se relacionar com clientes e fornecedores', afirma a professora.

Acelerou – Um dos dados preliminares, mas que já se destacam, é a rapidez com que novos modelos estão sendo implementados na rotina de produção de diversos segmentos econômicos. De um ano e meio, conta Camila, as mudanças ocorreram em semanas.

“Para essas mudanças foram necessárias o uso de tecnologia da informação (TI), a implantação de gestão visual, além da implantação de procedimentos padrões antes não adotados. Há relatos inclusive que com o uso da TI, principalmente para a adoção do teletrabalho, tem tornado as organizações menos burocráticas. O que chama a atenção é que a implantação de novas rotinas e procedimentos em sistemas produtivos, em geral demoram cerca de 1,5 ano até sua validação, e dado a crise algumas organizações estão a realizando em um intervalo de tempo bem menor de poucas semanas.

Exemplos – A professora citou, por exemplo, os supermercados. Segundo afirmou, as respostas do questionário têm indicado que a pandemia gera efeito de “vendas que só ocorrem no Natal', mas por outro lado, trouxe gastos inesperados na mudança de insumos, prática de produção e sistematização das medidas de higiene.

“Uma hipótese nossa quando a gente iniciou a pesquisa é que o mundo nunca volta a ser o mesmo depois da pandemia, as formas e as rotinas de trabalho nunca voltam a ser os mesmos, a gente já tem dados de empresas que falam, ah quando terminar a gente volta ao normal, tem outra que já falam que já decidiram que a gente vai mudar a forma de atender clientes. Existe a possibilidade de home office, a gente tem alguns relatos desse tipo. A primeira coleta é independente do tamanho da empresa, para saber como elas se estão se comportando', explica a cientista.

Ainda usam caderneta – Camila ainda relata que outra percepção com o início da coleta de dados é que modelos ou soluções já disponíveis há mais de 30 anos só conseguiram espaço entre as empresas agora. “As vezes você verifica que empresas de médio e grande porte que ainda patinam pra utilizar outras possibilidades. Imagina o pequeno negócio que até faz controle por caderneta', afirma.

“Soluções de pequenos negócios nesse momento são nesse sentido de tecnologia, parte está com as portas fechadas', comenta. “Uma parte significativa é estruturada pela família e amigos e o profissionalismo nem sempre está muito presente'.

Modelos já estão surgindo – Camila afirma que o projeto já busca entre as metodologias modelos que já surgiram no Brasil e fora do país depois da pandemia. No próximo mês a plataforma voltada aos pequenos negócios de Mato Grosso do Sul será publicada.

Enquanto alunos e professores se doam para a ciência numa época de corte de recursos, o objetivo é conseguir ir além. Criar um espaço de consultoria para que pequenos empresários possam ter mais ajuda.