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Douradense conta experiência de estar confinada em Paris

As universidades (aulas presenciais), os hotéis, as reuniões públicas, os festivais de verão ficam para um segundo momento, em julho



Mazé Torquato Chotil* confinada em Paris, lembrando a vida em Dourados



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Mazé Torquato Chotil*

Ouvi do presidente Emmanuel Macron, na sua terceira fala nesta crise do novo coronavírus, como uma grande parte dos franceses na última segunda, que devemos continuar o confinamento que começou dia 17 de abril. Somente a partir de 11 de maio, poderemos voltar, aos poucos, à vida normal. O governo precisa ainda de tempo para manter as baixas dos casos de internação necessitando cuidados respiratórios em UTI e para organizar a voltar às aulas e ao trabalho de forma segura. Difícil continuar o confinamento quando a vontade de sair de casa é grande neste começo de primavera de dias ensolarados em que a natureza volta de sua hibernação do inverno e nos brinda com suas múltiplas cores, como a dos marroniers, castanheiros das índias, de flores brancas ou rosas, que voltam a ter folhas e flores perdidas no começo do outono. 

Difícil, mas necessário. Continuamos podendo sair de casa para fazer uma hora diária de exercícios, comprar alimentos, remédios, ver o médico, em suma, fazer o essencial. Em todo caso, os parques continuam fechados, assim como as escolas e universidades, bares, restaurantes (podem servir para viagem), hotéis, museus, feiras de rua... e os dias da semana em confinamento são iguais. Todo dia é de 'final de semana' para ficar em casa. Aprecio os dias e noites de quietude que agradaria tê-los o ano todo, com menos carros e motos em circulação, dando ao ar que respiramos uma melhor qualidade. Em casa – visto a impossibilidade de partir ao Brasil neste final do mês como programado – sonho com 'meu' sítio do passado em um ponto da CAND, município de Dourados. Aqui nestes dias de sol minha memória sente os cheiros de mangas, mamões, jabuticabas, goiabas, jacas...assim que os odores dos bolos de massa puba e de milho verde ou ainda os gostos de chipas e coxinhas de massa de mandioca.

As medidas do governo são seguidas. Por exemplo, o mercado orgânico onde faço minhas compras de alimentos, distante cinco minutos de casa, organiza a entrada e saída de clientes. Não mais de 10 pessoas ao mesmo tempo dentro do local, desinfeta nossas mãos antes da entrada, assim que os carinhos que ficam à nossa disposição para as compras. Claro, respeitamos as distâncias na fila e no interior do mercado. Eu, como muitos, uso luvas e máscara. As consequências econômicas para o país são importantes, assim como para Paris, cidade que vive do turismo e está em compasso de espera com Museus e monumentos fechados. Torre Eiffel, Champs Elysées, Louvre, aeroportos... bares, restaurantes e hotéis tiveram que baixar suas portas.

Por outro lado, as empresas ligadas à agroindústria, à distribuição alimentícia estão trabalhando intensamente, assim que, claro, todos os serviços de saúde, hospitais, clínicas, farmácias... com as recomendações de proteção dos trabalhadores. Muitas outras empresas que podem, em geral ligadas a serviços, estão fazendo teletrabalho. As ajudas econômicas e sociais da França para manter as empresas e empregados na espera é enorme, mais de 110 bilhões de euros, porém necessárias para que no final da pandemia, possamos voltar às atividades com os empregos de antes. Gastos importante, aliás, como em todo o mundo que vai se confrontar à uma crise pior que a recessão 1929, mas a vida é importante.

Os números da pandemia desse novo coronavírus por aqui estão estáveis, porém ainda importantes, segundo o Ministério da saúde francês. Nesta última quarta-feira já eram mais de 104.000 casos confirmados e mais de 15.000 mortos. Mais de 29.000 voltaram para suas casas após hospitalização. Somente agora, pensando que os serviços de saúde viram o período mais crítico, o governo pensa que é possível imaginar o fim gradual do confinamento a partir do dia 11 de maio. Daqui até lá será o tempo de organizar esta volta., as modalidades a serem respeitadas.

O fim do confinamento, um grande desafio Inicialmente, no seu discurso, Macron agradeceu todos os profissionais envolvidos na luta contra este coronavírus e a população que respeitou as medidas de confinamento, falou dos problemas encontrados como a logística, a falta de máscaras, respiradores e outros EPIs e a dependência de importação deles. Pontos que devem ser revistos numa estratégia política que deve ser tomada pela União Europeia.

Em seguida anunciou que na data de 11 de maio escolas e colégios, creches abrirão suas portas. Desejou que o maior número possível de pessoas possa voltar ao trabalho, que a indústria, comercio e serviços possam retornar às suas atividades, mas não estava em condições de fornecer maiores informações. Deverá discutir estas reaberturas com os parceiros sociais para que sejam estabelecidas regras para proteger os trabalhadores. As universidades (aulas presenciais), os hotéis, as reuniões públicas, os festivais de verão ficam para um segundo momento, em julho. De forma que muitos festivais de verão – aqui em julho e agosto – estão sendo anulados.

Modalidades Voltar ao trabalho, o que tem acontecido também em outros países europeus é um verdadeiro desafio, já que precisa ser feito de forma segura para os trabalhadores, sabendo que a ciência, por enquanto, não dispõe de remédios nem vacina no combate à pandemia. As medidas de volta ao trabalho serão anunciadas, como disse, final do mês. Por enquanto, muita preocupação pois a situação é complexa e inédita.

Na espera do pronunciamento, sabe-se que dia 11 de maio existirá a possibilidade de testar toda a população que apresentará sintomas do novo coronavírus de forma que os di-agnosticados positivos sejam colocados em quarentena. Em quarentena também estarão as pessoas mais vulneráveis, idosos ou portadores de deficiências graves, bem como aqueles que sofrem de doenças crônicas.

As questões são muitas e serão respondidas pelo presidente com seu plano de saída do confinamento, a exemplo do funcionamento das escolas, de como manter a distância nos transportes. O presidente que rever a independência agrícola, industrial e tecnológica do país, re-ver a relocalização de produtos essenciais como os de saúde em sua maioria importados da China.

É em período de dificuldades como este em que a capacidade de liderança dos responsáveis políticos se revela ou não. Daqui de Paris, na espera de melhores dias, com remé-dios e vacina eficazes, desejo a todos um bom confinamento.

*Jornalista, pesquisadora e autora nascida num sítio hoje município de Gloria de Dourados, é autora dos livros de memórias 'Lembranças do sítio', Lembranças da vila', 'Minha aventura na colonização do Oeste' e do romance 'Na Rota de traficantes de obras de arte' ligados à história do Mato grosso do Sul.