As principais distribuidoras de combustíveis do Brasil, a BR Distribuidora e a Raízen, começaram a cancelar contratos de compra de etanol junto às usinas de cana-de-açúcar por causa da forte queda da demanda nos postos, segundo fontes com conhecimento do assunto. As duas companhias estão alegando motivos de força maior. A BR Distribuidora e a Raizen, uma joint venture entre a anglo-holandesa Royal Dutch Shell e o conglomerado brasileiro de cana-de-açúcar e logística Cosan, enviaram uma carta aos seus fornecedores de etanol cancelando contratos de compra, segundo pessoas a par do assunto.
O cancelamento inclui tanto o etanol anidro, que é misturado com a gasolina, como o etanol hidratado, que é utilizado diretamente no motor dos carros. O que disseram oficialmente as companhias? A Raízen confirmou que declarou força maior, enquanto a BR Distribuidora não respondeu imediatamente ao pedido de comentário feito pela Bloomberg News.
O que mais se sabe sobre os cancelamentos? A Raízen disse que não tem capacidade suficiente para armazenar etanol de terceiros em meio à queda no consumo de combustível. A empresa é o maior produtor de etanol do Brasil e, como a maioria das usinas de cana-de-açúcar, tem capacidade própria de estoque. Como as usinas estão reagindo? Produtores de etanol não aceitam o motivo de força maior alegado pelos distribuidores e estão abrindo a possibilidade de negociação, disseram as fontes. Se isso não resolver o problema, pode-se abrir uma disputa com um juiz de arbitragem para decidir o assunto.
De acordo com a Unica (entidade que representa o setor sucroalcooleiro), as usinas do Centro-Sul, a maior região produtora de cana do país, têm capacidade suficiente para estocar 60% da produção anual total de etanol em tanques. O principal problema é o custo para manter esses grandes estoques em um momento em que, sem conseguir vender, as usinas não têm receita, disse Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica. Esse é um problema que acontece só no Brasil? Não. A paralisação da economia por causa do coronavírus e o petróleo com preços baixos estão atingindo o setor de combustíveis em todo o mundo.
A Valero Energy, a empresa de refinaria de petróleo número 2 dos EUA, está fechando temporariamente duas plantas e não cumprirá alguns contratos. A Andersons está suspendendo as operações em suas fábricas, enquanto a Poet "cessou temporariamente as compras de milho em vários locais". A Pacific Ethanol está reduzindo a produção em até 60%.